domingo, 23 de março de 2014

Como fazer uso de flashbacks

Neste episódio da série ESCREVENDO UM ROMANCE, Leonardo Barros discute o uso de Flashbacks e de "prolepses".
O autor dá dicas de como usar inversões do tempo cronológico da narrativa.


Se você prefere "ler" o conteúdo do vídeo, confira o texto abaixo:

Você sabe o que quer dizer “prolepse” e “analepse”?

A “Analepse” é mais conhecida como flashback e consiste na interrupção do fluxo cronológico da narrativa por meio da intromissão de uma sequência, cena ou relato de um acontecimento do passado.
A analepse pode ser usada para intercalar ação e informação, criando picos e vales de tensão narrativa.
Não entendeu?

Veja bem: quando lemos um livro, não pode haver ação a todo tempo, ou não haverá mais surpresa. Por ação, entenda que me refiro ao confronto direto do personagem com os obstáculos que lhe são impostos. Dessa forma, você pode usar os diálogos dos personagens para contar ao seu leitor alguns fatos que aconteceram no passado.

O flashback também pode ser mostrado, em vez de narrado, e dessa forma, as lembranças de um personagem podem trazer ao leitor uma informação necessária ao entendimento e à progressão da narrativa.

Uma dica: flashbacks devem reforçar pontos de vista do personagem ou introduzir fatos novos que sejam relevantes à trama.

Outro aspecto importante quanto ao uso de flashbacks é a sua duração. Já li romances com flashbacks maiores que 50 páginas, e confesso que fiquei um pouco confuso. Analepses muito longas podem confundir seu leitor, que acaba se esquecendo do principal núcleo de ação narrativa.

Há opções que encurtam o tempo da analepse, como um relato histórico contado num velho pergaminho. O sonho é outra forma de introduzir sequências curtas de flashbacks que cumprem sua função narrativa sem cansar o leitor.

Lembre-se também que não se deve iniciar uma história por um flashback. Se decidir fazê-lo, recorra à opção de mostrar os fatos em narrativa dramática, com cenas, ou deixe o narrador apresentar os fatos do passado em um prólogo.

Reflita: se você não se sente à vontade para fazer uso do flashback em sua história, não o faça. Talvez seja melhor deixar o recurso para seu segundo romance. Mas se você está escrevendo um livro de suspense e mistério, é bom que tente identificar, em livros do gênero, os motivos que levaram seus autores a usar a analepse.

Há livros e filmes que são narrados em flashbacks.
O livro ENTREVISTA COM UM VAMPIRO, de Anne Rice, deu origem ao filme com o mesmo nome, em que Louis, interpretado pelo ator Brad Pitt, conta a história da sua transformação e fala da sua morte-vida ao lado do vampiro Lestat de Liancourt, interpretado pelo ator Tom Cruise.

O filme Amnésia, de Christopher Nolan, é outro exemplo de uso bem sucedido de flashbacks. Na história, Guy Pearce interpreta Leonard Shelby, um homem que sofre de amnésia anterógrada e é obrigado a registrar cada passo com fotos e anotações, até descobrir o que aconteceu com sua esposa assassinada. Os flashbacks são introduzidos pelos relatos de outros personagens que interagem com o protagonista.

O filme foi indicado ao oscar de melhor roteiro e melhor edição do ano de 2000, e é um dos meus filmes preferidos do gênero.
O filme AMNÉSIA também é um bom exemplo do uso de Prolepse, que é a antecipação de eventos futuros da trama. O filme já começa pelo evento que se imaginaria ser o último na ordem cronológica, a cena em que o protagonista se vinga do assassino de sua esposa. E é a partir do final que o filme começa...

Como escritor, eu costumo usar flashbacks e prolepses em minhas histórias.
A cena de abertura de O Maníaco do Circo é uma prolepse em que vê o palhaço assassino em ação, perseguindo uma vítima. Na segunda metade do livro, um dos personagens vê, na TV, uma reportagem a respeito do crime, e entende que, somente naquele momento da história é que a cena de abertura acabou de acontecer.

No livro Presságio – O assassinato da Freira Nua, a personagem Alice Vegas manifesta seus poderes de clarividência e apresenta fatos ao leitor por meio de flashbacks e de prolepses, pois é capaz de ver fatos ocorridos no passado e no futuro. Lidar com anacronismos é uma prova de fogo para qualquer escritor. E ao escrever o Presságio entendi que nunca se deve subestimar o recurso, e que toda atenção é pouco na hora de revisar os fatos.

A última dica, e talvez a mais importante, é que todos os eventos narrados em prolepse e analepse devem ser antevistos desde o planejamento do resumo da sua história. Caso contrário você pode acabar se confundindo...

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Espero que seu livro seja um sucesso!
Obrigado pela sua atenção e até a próxima semana!

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