Um leitor que se aventura em suas
primeiras experiências literárias talvez não tenha a sensibilidade de perceber
a série de nuances e possibilidades que se escondem por trás do ato de contar
uma história.
Com um tempo, mesmo que
intuitivamente, percebe-se que umas histórias são relatos de personagem que as
viveram (narrador em 1ª. Pessoa) e outras são contadas por um narrador
misterioso cuja identidade ninguém pode definir (3ª. Pessoa). Mas acho que disso
você já sabe, né?
Para o escritor não basta conhecer
as possibilidades narrativas, as formas como ele pode se dirigir ao leitor,
quanto da história ele vai revelar saber ou mesmo que “distância” ele vai
guardar do seu leitor. O autor deve
ouvir à sua voz narrativa e tentar
identificar nela suas influências.
Daí a importância de ler o maior
número possível de autores e de tentar identificar, em todos eles, as
características que norteiam o seu
pensamento na hora em que você vai
escrever.
A tal voz narrativa pode ser definida
como a maneira como o leitor escuta, em sua mente, a voz daquele que lhe conta
a história. Mas, antes disso, é a forma como a ideia se apresenta na mente do
autor.
E quem conta a história para que o escritor a ponha no papel?
Conheça suas referências e
perceba quando elas se manifestam. Seus personagens podem falar como seus
amigos ou como personagens de um velho filme que você assistiu há muitos anos.
Seu narrador, mesmo que supostamente protegido na distante terceira pessoa,
pode falar com o mesmo tom de outros autores que você leu e admira.
Então, eu lhe pergunto: quem está
contando suas histórias? Você ou uma projeção, em sua mente, do seu autor
preferido? Parece absurdo ou surreal? Medite e você verá que faz sentido.
Quando era adolescente, adorava
os livros de Nelson Rodrigues, suas histórias trágicas e dramáticas, seus
personagens enfáticos e apaixonados. Anos depois, quando decidi escrever,
acabei emprestando aos meus personagens aquela mesma intensidade dramática que
lia em livros como “Asfalto Selvagem” ou “A Vida Como Ela É...”, mas logo
percebi que não era eu quem estava escrevendo aqueles diálogos, mas uma espécie
de projeção de outro autor em minha mente. Isso não diminui o valor da minha
obra, nem configura em nenhuma espécie de plágio ou coisa que o valha, mas
perceber aquilo me incomodou. O mesmo fenômeno se repetiu alguns anos depois, quando eu encontrei, em alguns pontos da minha narrativa, estilos que remetiam ao texto de Stephen King ou George R. R. Martin.
Pesquisei um pouco sobre o
assunto e descobri que esse é um fenômeno relativamente comum para quem começa
a escrever, e até mesmo para escritores experientes (acontece menos, mas vai acontecer em algum momento).
E o que você pode fazer para evitar e resolver o problema?
A forma mais segura de encontrar
sua própria voz narrativa é continuar lendo inúmeros escritores, de
diferentes estilos, e sempre identificar as influências de outros autores em
seu texto, quando elas se apresentam. Não estou sugerindo que você evite ouvir
a voz dos autores que lhe influenciam, mas é sempre bom “lapidar” o texto, num
segundo momento, na tentativa de evitar esse tipo de contaminação.
Com o tempo, à medida que você
conhecer suas influências e aprender a lidar com todas, sua própria voz
narrativa vai se destacar em meio a tantas influências. Esse é um processo
natural. Aceitá-lo e conhecê-lo é sempre o melhor caminho a se seguir...
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Caramba! Fiquei aliviada em ler isso, pensei que só eu ouvia meus autores favoritos narrando minhas histórias. ;)
ResponderExcluirNão sou maluca! \o/
Beijos!
Hehehe
ExcluirOi, Raquel. Isso é loucura que dá, mas passa. Hehehe
O importante é sempre estar ciente, quando acontece.
Se você percebe, é porque está no caminho certo. ;)
Beijão! :)
Isso é Ótimo Léo *-*
ResponderExcluirDo tipo, uma vez eu estava lendo "A menina que roubava livros" de Marck Zusak; Conhece? E o que eu não sabia na época era que a narradora do livro era a morte, mas era óbvio, por que atrás tinha "Quando a morte conta uma história, você deve parar ler",não tinha entendido o fato de eu estar tão surpresa. Rsrs. Bom hoje eu já consigo identificar quando o(a) narrador(a) está na primeira pessoa do singular(Eu) ou na terceira(Ele) :) . Bom, isso é tudo. Beijos :*
http://docecomo-ficcao.blogspot.com.br/
Oi, Amanda.
ExcluirÉ importante para o leitor conhecer o narrador desde o início. Assim, fica mais fácil atribuir ou não participação a quem conta a história.
Quanto ao A MENINA QUE ROUBAVA LIVROS, achei um bom livro, até conceitual, sob alguns aspectos, mas algo em relação ao narrador me incomodou. Senti como se o Mark tivesse "esquecido" que o narrador era a morte, entre o segundo terço e o final do livro. Mas, enfim, é só uma opinião. ;)
Obrigado pela visita!