domingo, 12 de janeiro de 2014

Acabou de escrever seu romance? Agora é que o trabalho duro começa...

Depois de passar dias se consumindo, você tem aquela ideia fantástica e muda o final da sua história, que antes parecia forçado ou clichê. Então, todo feliz você decora o rodapé do seu original com um capital e negritado FIM, e posta a foto, todo orgulhoso no Instagram

Ok, você está certo em celebrar a primeira etapa do seu trabalho, e tem todo o direito de fazê-lo. Eu mesmo costumo dividir com meus leitores essa pequena vitória, a alegria de ter finalizado mais um processo de criação. Mas você tem de saber que o trabalho está apenas começando!

Veja bem: estou supondo que você levou em consideração as técnicas de estruturação, a vigilância constante com características e pontos de vista dos personagens e aspectos como congruência e continuidade (se você não sabe o que esses termos significam, fique atento às próximas postagens do blog. Estou trabalhando numa série de vídeos sobre estruturação).

Livro terminado, você imprime um original e envia para uma grande editora, certo? Errado!

Está na hora de lapidar o texto. E o que seria essa “lapidação”? 

Para mim, um bom tratamento de texto se resume em uma palavra: “cortes”. 
O que você tem a fazer é eliminar palavras, frases ou, em alguns casos, parágrafos desnecessários. Em casos específicos, talvez valha a pena optar por substituições em lugar dos cortes.

Como eu faço: assim que digito a última palavra do original, eu reservo um tempo para celebrar, descansar e me “desapegar” do texto. Duas semanas são suficientes, na maioria das vezes, mas em casos de extremo cansaço ou estresse, um mês pode ser necessário. É hora de intensificar as leituras recreativas, de escrever textos não literários, de passear, de rever amigos e qualquer outra coisa que me agrade. Esse tempo é necessário para que eu “esqueça o texto”, para que as imperfeições que antes eram imperceptíveis possam saltar diante dos meus olhos, na próxima leitura. 
Será que isso aconteceria com você? Claro que sim!

Vamos supor que você deu um tempo e se afastou do seu original... Agora você se desapegou do texto e pode enxergar seus pontos fortes e fracos, da mesma forma que você faz com os textos dos autores que lê. É hora de corrigir a si mesmo.

Seguem algumas dicas básicas de lapidação:




Elimine excessos:

1. Adjetivos.
Tenha em mente o axioma: “um adjetivo define um substantivo, mas dois ou mais adjetivos podem confundir”. 
Veja bem, não estou sugerindo que você escreva um texto pouco descritivo, não é isso. O que você tem de fazer é escolher quais são os adjetivos que “definem os personagens e os cenários” e os que são necessários ao texto. Tenho certeza de que você vai se surpreender quando procurar pelos adjetivos que estão sobrando e quando perceber que seu texto está apinhado de enfeites que atrasam a leitura, que diminuem a fluência do texto, e que não acrescentam em nada. 

2. Advérbios.
Os advérbios podem sabotar seu texto. Experimente reler seu original e omitir, mentalmente, alguns advérbios. Se eles não mudam o sentido real do texto e não impedem o entendimento, talvez seja uma boa ideia retirá-los dali. 

Substitua:

1. Palavras repetidas.
Se Carlos é homem, magnata e cínico, não se refira a ele como Carlos em todas as frases. Dizer que “o magnata a olhou com desdém” ou que “o cínico a ignorou e entrou no elevador” alivia o uso repetido da palavra e evita a monotonia, relembrando ao leitor as qualidades e defeitos que definem os personagens, criando empatia e imersão. Aqui, você revolve dois problemas de uma vez só.

2. Verbos incomuns.
Preciso explicar?

3. Voz passiva.
Neste ponto, tenha em mente que a clareza do texto e a objetividade de quem o escreve proporcionam, ao leitor, um texto fluente e confortável. 
“A violência do impacto o arremessou contra a parede” soa melhor que “ele foi arremessado para trás devido ao impacto que o projétil causou”. Percebe como é sutil e ao mesmo tempo óbvio? Fique atento!

4. Frases negativas.
Nossa mente dá preferência às definições afirmativas. Dizer o que ou como alguém é o define melhor do que contar como ele “não é”. 
“Viu que era impossível ignorar seus olhos” soa melhor que “Viu que não poderia não olhar para ela”. 

Agora que você poliu seu texto, é hora de submetê-lo à primeira revisão... Mas esse é assunto para outro tópico.

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8 comentários:

  1. Respostas
    1. Valeu, Gabriel!
      Percebi que depois de cinco anos produzindo e estudando, já tinha alguma experiência a compartilhar.
      Bom que gostou. :)
      Logo trago mais novidades!
      Abraço!

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  2. Falou e disse, Léo! Ótimo texto.Compartilhado.

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  3. São dicas preciosas Leo.
    http://sobrelivrosemaisumpouco.blogspot.com/

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  4. Poxa, você disse tudo.
    Eu estou escrevendo, ainda, não terminei. E já estou percebendo quantas mudanças são necessárias. Cheguei na parte em que as coisas começam realmente a andar, e já havia feito uma modificação... Acabou que fiquei um tempo sem pegar no que havia feito e quando voltei percebi que poderia melhorar um monte de coisas. O mais legal é que a escrita também vai amadurecendo com o tempo. Eu consigo visualizar melhor que antes e acredito que a tendência seja essa. E poxa, deve dar mesmo trabalho quando terminar ter que polir tudo, e ainda verificar os demais detalhes.. mas vale muito a pena!! Estou amando escrever! :D
    Bjs!!

    http://vivianpitanca.blogspot.com.br/

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    Respostas
    1. Oi, Vivian!
      Que bacana! ^^

      Trabalhe seus resumos e siga-os até o final.
      Construa seu texto com o coração e, ao final, edite-o com a razão! Não falha nunca! ;)

      Espero que dê tudo certo, e você finalize seu romance.

      Beijão!

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