domingo, 19 de janeiro de 2014

VOZ NARRATIVA - De quem é aquela voz que você está escutando?


Um leitor que se aventura em suas primeiras experiências literárias talvez não tenha a sensibilidade de perceber a série de nuances e possibilidades que se escondem por trás do ato de contar uma história.

Com um tempo, mesmo que intuitivamente, percebe-se que umas histórias são relatos de personagem que as viveram (narrador em 1ª. Pessoa) e outras são contadas por um narrador misterioso cuja identidade ninguém pode definir (3ª. Pessoa). Mas acho que disso você já sabe, né?

Para o escritor não basta conhecer as possibilidades narrativas, as formas como ele pode se dirigir ao leitor, quanto da história ele vai revelar saber ou mesmo que “distância” ele vai guardar do seu leitor. O autor deve ouvir à sua voz narrativa e tentar identificar nela suas influências.

Daí a importância de ler o maior número possível de autores e de tentar identificar, em todos eles, as características que norteiam o seu pensamento na hora em que você vai escrever.

A tal voz narrativa pode ser definida como a maneira como o leitor escuta, em sua mente, a voz daquele que lhe conta a história. Mas, antes disso, é a forma como a ideia se apresenta na mente do autor.

E quem conta a história para que o escritor a ponha no papel?

Conheça suas referências e perceba quando elas se manifestam. Seus personagens podem falar como seus amigos ou como personagens de um velho filme que você assistiu há muitos anos. Seu narrador, mesmo que supostamente protegido na distante terceira pessoa, pode falar com o mesmo tom de outros autores que você leu e admira.

Então, eu lhe pergunto: quem está contando suas histórias? Você ou uma projeção, em sua mente, do seu autor preferido? Parece absurdo ou surreal? Medite e você verá que faz sentido.

Quando era adolescente, adorava os livros de Nelson Rodrigues, suas histórias trágicas e dramáticas, seus personagens enfáticos e apaixonados. Anos depois, quando decidi escrever, acabei emprestando aos meus personagens aquela mesma intensidade dramática que lia em livros como “Asfalto Selvagem” ou “A Vida Como Ela É...”, mas logo percebi que não era eu quem estava escrevendo aqueles diálogos, mas uma espécie de projeção de outro autor em minha mente. Isso não diminui o valor da minha obra, nem configura em nenhuma espécie de plágio ou coisa que o valha, mas perceber aquilo me incomodou. O mesmo fenômeno se repetiu alguns anos depois, quando eu encontrei, em alguns pontos da minha narrativa, estilos que remetiam ao texto de Stephen King ou George R. R. Martin. 

Pesquisei um pouco sobre o assunto e descobri que esse é um fenômeno relativamente comum para quem começa a escrever, e até mesmo para escritores experientes (acontece menos, mas vai acontecer em algum momento). 
E o que você pode fazer para evitar e resolver o problema?

A forma mais segura de encontrar sua própria voz narrativa é continuar lendo inúmeros escritores, de diferentes estilos, e sempre identificar as influências de outros autores em seu texto, quando elas se apresentam. Não estou sugerindo que você evite ouvir a voz dos autores que lhe influenciam, mas é sempre bom “lapidar” o texto, num segundo momento, na tentativa de evitar esse tipo de contaminação.

Com o tempo, à medida que você conhecer suas influências e aprender a lidar com todas, sua própria voz narrativa vai se destacar em meio a tantas influências. Esse é um processo natural. Aceitá-lo e conhecê-lo é sempre o melhor caminho a se seguir...

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4 comentários:

  1. Caramba! Fiquei aliviada em ler isso, pensei que só eu ouvia meus autores favoritos narrando minhas histórias. ;)
    Não sou maluca! \o/
    Beijos!

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    1. Hehehe
      Oi, Raquel. Isso é loucura que dá, mas passa. Hehehe
      O importante é sempre estar ciente, quando acontece.
      Se você percebe, é porque está no caminho certo. ;)
      Beijão! :)

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  2. Isso é Ótimo Léo *-*
    Do tipo, uma vez eu estava lendo "A menina que roubava livros" de Marck Zusak; Conhece? E o que eu não sabia na época era que a narradora do livro era a morte, mas era óbvio, por que atrás tinha "Quando a morte conta uma história, você deve parar ler",não tinha entendido o fato de eu estar tão surpresa. Rsrs. Bom hoje eu já consigo identificar quando o(a) narrador(a) está na primeira pessoa do singular(Eu) ou na terceira(Ele) :) . Bom, isso é tudo. Beijos :*

    http://docecomo-ficcao.blogspot.com.br/

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    1. Oi, Amanda.
      É importante para o leitor conhecer o narrador desde o início. Assim, fica mais fácil atribuir ou não participação a quem conta a história.
      Quanto ao A MENINA QUE ROUBAVA LIVROS, achei um bom livro, até conceitual, sob alguns aspectos, mas algo em relação ao narrador me incomodou. Senti como se o Mark tivesse "esquecido" que o narrador era a morte, entre o segundo terço e o final do livro. Mas, enfim, é só uma opinião. ;)
      Obrigado pela visita!

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